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Contos
Assassinos?
“Não tenho certeza de onde estou, apenas uma vaga idéia. Mas com toda certeza, não era para cá que eu deveria ter vindo...
Vejo um abutre, ou algo semelhante, não sei bem, remexendo uma carcaça de animal de pelos negros, morto sob a areia. Talvez eu já esteja tendo alucinações. Na cidade, dizem que os desertos podem causar isso, dizem também que nunca se deve vir para cá, nada de bom pode acontecer. Mas era preciso...
Rumores, que para mim eram quase certos, ou precisavam ser, contam que escondidos nas areias, existem vilas onde ainda é possível se viver. Nessas vilas existiriam grandes Assassinos. Talvez seja por isso que o Clericato nega a existência desses locais. No entanto, rumores não passam de rumores, e essa é uma lição que estou aprendendo agora.
Talvez eu devesse voltar a caminhar. Não tenho certeza de que direção eu vim, mas se não sair daqui, serei a próxima refeição desse abutre. Levanto-me e retomo minha caminhada. Minha moto quebrou duas horas atrás, seguindo em alguma direção. O Sol é agressivo, e embora eu tenha vindo preparado com roupas pesadas, que disseram ser o suficiente, sinto quase como se solhasse para mim a todo tempo, punindo-me por cada pequeno e grande erro que eu cometi em minha vida: Um Juiz e um Carrasco.
Caminho por quase um hora, meus pés estão fracos dentro da bota. Em certo momento, meus joelhos sedem sobre uma duna. Talvez eu devesse ter escolhido uma região mais sólida...
Caio e rolo alguns metros para baixo. Minha garganta está seca, minha água acabou horas atrás, minha visão está turva, mas vejo algo se mover alguns metros à frente. Parece um tecidos balançando ao vento. Penso em esfregar meus olhos para ver melhor, mas não tenho energia suficiente. Desisto de entender aquilo, e os fecho, para não ver mais nada.
Não sei quanto tempo passei caído ali. Sinto algo me puxando pelos ombros, sua força é tremenda, me arrasta pela areia com facilidade. Sombra? Estou sob uma sombra. De onde vem? Tento abrir os olhos, pareço estar em uma tenda. O vento sacode suas paredes de pano, sinto cheiro de carne fritando. Parece ter fogo por aqui
Olho em volta, vejo uma pequena fogueira dentro de um circulo de pedras e logo acima o que parecia ser o almoço de alguém, além de sacolas de couro e vários embrulhos. Como cheguei aqui? Ouço barulho de metal...
Olho para trás e vejo o que parece ser um homem alto, envolto em pesados tecidos branco e bege, com um lenço cobrindo a cara e os cabelos, e o que parece ser uma espada levemente curva para trás na lâmina e curva para a frente no cabo, com a ponta à alguns centímetros da minha cabeça.
Tento falar, mas nada sai de minha boca. Sinto meu corpo dormente, e desmaio.”
O Velho
“Abro as enormes portas empurrando-as com as duas mãos. No interior da igreja, vejo os bancos enfileirados uns atrás dos outros em duas colunas dividas por um corredor ao meio. As paredes, ostentam pinturas e vitrais que se alternam
Observo o velho em suas vestes negras desbotadas, está parado de frente a um pequeno altar de pedra onde pode-se ler a frase, “A verdade prevalecerá”, lapidado em sua borda. Acima do altar, estende-se um enorme vitral, que ilustra pessoas olhando para o céu, orando ao Sol, para que as proteja.
- Padre! - Grito desesperado cuspindo sangue.
O Velho se vira sereno, e com um gesto leve pede-me para sentar.
Fecho as portas rapidamente observando a rua, e corro em direção ao altar. Meus passos ecoam na igreja vazia, e ao chegar, sento em um dos bancos da primeira fileira.
- Você deve me ajudar, Padre! A Gangue do Solslaio está atrás de mim! Deixe-me esconder aqui por uns dias?
- Meu jovem, acalme-se, diga-me o que aconteceu.
- Os Solslaios estão atrás de mim, pois roubei parte do carregamento de armas deles! Ia em direção ao centro.
- Criança, entenda, não há o que se fazer, os crimes existem, e devemos apenas nos manter longe deles.
- Mas eu ouvi Hann, escondido, ele dizia que irá tentar roubar todo o carregamento de água dessa região, e revender a preços grandes para as pessoas da redondezas! Veja bem, Padre! O Carregamento que você deveria distribuir será roubado!
- Bem, parece que você andou se metendo em problemas.
- Precisamos impedi-lo!
- Garoto, você sabe de mais.
- O que?
Percebo tarde, os dois homens que se aproximavam por trás, sem que eu os escutasse. Um deles em um movimento veloz, antes que eu me virasse, acerta-me com a coronha de sua arma. Desmaio.
- Senhor? - Pergunta um dos homens.
- Apague.
Um tiro ecoa pelo igreja, e meu sangue espirra no chão de mármore.
- Você, limpe isso. E você leve-no e o jogue em qualquer beco longe daqui. - Diz o Padre, virando-se de volta para o altar, à apreciar a frase lapidada na pedra.”